quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Cultura x Civilização

     Conceituar cultura e civilizações torna-se uma tarefa bastante difícil haja vista que, vários fatores contribuem para essas diferenças e principalmente, os diferentes pontos de vista de cada povo que tentou conceituá-las.
     A partir do século XVI, o conceito de cultura passaria a articular-se, ora positiva ora negativamente, com o conceito de civilização pois, inicialmente, o conceito de civilização referia-se, de um lado, ao civil, correspondente ao homem educado e polido, e do outro lado, à ordem social, derivando daí o conceito de sociedade civil. Mas, com o tempo, civilização passou a designar um estágio ou etapa do desenvolvimento histórico ocidental ligado ao progresso. Desde então, ao aproximar-se do conceito de civilização, cultura passou a exprimir os aspectos do desenvolvimento material da sociedade moderna que via como civilizado o homem moderno, polido, erudito sendo tudo isso uma construção, etnocêntrica, de franceses e ingleses que servia para confirmar a consciência que os ocidentais tinham de si próprios.
     Conceito de civilização, de certa forma, era usado com o objetivo de minimizar a diferença entre os povos já que, esse conceito era utilizado como artifício de expansão e colonização de outras terras e também da confirmação da identidade dos povos colonizadores. Estabeleceu-se então, o conceito de identidade que estava relacionado a esse caráter expansionista e colonizador daqueles que foram além de suas fronteiras.
      Em contrapartida, para os alemães Kultur (cultura) é um conceito com maior expressão pois, determina os aspectos intelectuais, artísticos, religiosos, técnicos, morais, sociais e acima de tudo a realização no próprio Ser. Para eles, o conceito de cultura não tem o mesmo significado do conceito de civilização, estabelecido pelos ingleses e franceses, pelo fato desse conceito estar relacionado à produção humana como no caso, de obras filosóficas, obras de arte, obras literárias, ou seja, a particularidade desse povo. Ressaltando que, cultura para os alemães está ligada à cultivo já que, as várias civilizações germânicas eram agricultoras.
      Portanto, a idéia de identidade para o povo alemão é intrinsecamente particular pois, a construção da mesma se baseia no historicismo, na sua trajetória histórica e cultural, como também das diversas indagações que eles fizeram ao longo do tempo: o que era ser inglês? o que era ser francês? e, principalmente, o que era ser alemão? Sendo assim, o alemão pode nascer em qualquer parte do mundo que ele será sempre um alemão.
      A partir de um estudo, fica perceptível que o processo civilizador é um processo de uma classe dominante que está se consolidando e irá definir um todo, notadamente, a construção da identidade. É a partir daí, que tanto para o inglês quanto para o francês a palavra civilização é uma palavra discriminatória, ou seja, o que não é civilizado (outros povos) é selvagem e precisa ser civilizado. E, para o alemão é também discriminatória, a partir do momento em que ele passa a conceituar ou conceber cultura através da sua particularidade, da sua individualidade.
     Conclui-se então que, ambas as concepções são, relevantemente, uma construção etnocêntrica de sociedades dominantes que se voltaram apenas para o seu progresso, olhando apenas para si próprios, subjugando e ignorando a cultura dos outros povos que para eles eram considerados inferiores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário